Escrito por Don Closson, traduzido por Allan Ribeiro
É sempre mais fácil lidar com sistemas de crenças religiosas no abstrato. Catalogar o que uma religião em particular crê acerca da natureza de Deus, da natureza humana, da salvação e moralidade é geralmente uma tarefa sem percalços. Conversar de verdade com alguém que tenha essas mesmas crenças pode ser bem mais interessante e desafiador. Assim, embora eu possuísse um conhecimento geral sobre o que o islamismo ensina, eu descobri que somente mantendo uma longa discussão com um muçulmano eu entenderia a mentalidade e as atitudes de um seguidor de Alá. Uma porta se abriu para mim para experimentar algo da paixão e do fervor de um evangelista muçulmano. A discussão ocorreu por e-mail, o que abrandou parte das emoções que geralmente acompanham intercâmbios religiosos, mas ela ainda veio carregada de considerável intensidade.
A oportunidade de levar a cabo uma discussão com um apologista muçulmano surgiu quando um ministro universitário [pessoas com ministério específico de levar a Palavra de Deus aos universitários nos Estados Unidos] me perguntou se eu gostaria de ajudar a responder a ataques contra as alegações do cristianismo feitas por um líder islâmico em sua faculdade. Eu concordei e logo percebi que um número de outras pessoas, tanto muçulmano quanto cristãos estaria ouvindo nossa argumentação. Uma vez que fui apresentado ao meu contraparte muçulmano, vamos chamá-lo de Ali, o debate começou rapidamente. Gostaria de poder dizer que ao final da nossa discussão, Ali colocou sua fé em Cristo. Na verdade eu não acho que eu tive qualquer impacto em seu pensamento. Ali, como qualquer um de nós, escolhe o que aceitar como evidência. Ele se recusa até mesmo a tentar ver qualquer dos assuntos que discutimos de uma perspectiva cristã. Tudo o que eu posso fazer é orar para que Deus possa usar nossa discussão em algum ponto da estrada futuramente, se Deus escolher amolecer o coração de Ali.
Por um período de seis meses nossa discussão focou-se primariamente na pessoa de Cristo. Ali perguntava e eu tentava dar uma resposta. Eu rapidamente percebi que as táticas e intenções de Ali eram diferentes das minhas. Ele com freqüência tentava ridicularizar e intimidar em suas respostas e selecionava e determinava o que discutir e o que ignorar, decidindo quando passar para outro tópico com a intenção de evitar realmente considerar o material disponível. Eu nunca me considerei um debatedor. Eu preferiria muito mais ter uma discussão com pessoas que estão interessadas de verdade no assunto e graciosamente trocam pontos-de-vista. Se eu fosse entrar em outro diálogo como o que eu tive com Ali, eu teria que perceber que não posso achar que todos pensam como eu com relação a diálogos entre cosmovisões religiosas. A Bíblia nos diz para estarmos prontos para darmos razões para a esperança que temos em Cristo, e para fazermos isso com gentileza e respeito. Não espere que a outra pessoa vá seguir as mesmas regras.
A seguir iremos considerar o tema da pessoa de Jesus Cristo da perspectiva de um muçulmano e começar a considerar como alguém pode dar uma resposta bíblica.
Matemática Cristológica
Já que eu nunca tinha falado antes a um muçulmano acerca das asserções do cristianismo, eu estava ansioso para descobrir que tipos de questionamentos poderiam ser levantados. Não me surpreendeu que o primeiro ponto que surgiu na conversa tenha sido a natureza de Jesus Cristo, já que este é realmente o coração do assunto. Mulçumanos crêem que Jesus foi um profeta, talvez mesmo um profeta singular, mas não que ele é Deus em qualquer sentido. Ali continuou a conversa dizendo que não havia nenhum lugar na Bíblia que dissesse que Jesus é 100 por cento Deus e 100 por cento homem. Junto com esse desafio inicial, Ali disse que era muito sensível a uma interpretação correta e que estaria procurando por incidentes de versículos distorcidos para fazer uma passagem dizer algo que na verdade não diz.
Mandei para Ali um ensaio de 2.500 palavras que eu tinha escrito antes que continha vários argumentos acerca da divindade de Cristo e numerosos exemplos bíblicos de Jesus fazendo e dizendo coisas que só fazem sentido se Ele for realmente igual com Deus, o Pai. Minha resposta incluiu indicações da auto-percepção de Cristo com Deus, assim como declarações feitas por Seus discípulos retratando suas crenças em Sua divindade. Eu presumi que a humanidade de Cristo não era o verdadeiro ponto. Então eu não vi necessidade de defendê-lo. A resposta de Ali foi interessante. Ele observou que os muçulmanos realmente crêem que Jesus nasceu de uma virgem e fez muitos milagres, coma a ajuda de Deus. Mas então ele disse "A partir da sua resposta eu acho que nós dois acreditamos que a Bíblia não declara que Jesus é 100% Deus e 100% homem". Ele acrescentou mais tarde, "Se você não tem nenhum versículo para nos dar, então vamos passar para o próximo ponto".
Primeiro eu pensei que Ali não tinha entendido meu ensaio completamente. Como ele poderia não ter captado o que eu queria dizer? Ele me reassegurou que tinha entendido tudo e então eu declarou que já que não existe nenhum versículo que assevere os 100 por cento de divindade e os 100 por cento de humanidade de Cristo, nós iríamos em frente. O que eu eventualmente percebi foi que ele estava querendo um único versículo que declarasse com certeza um conjunto matemático de porcentagens para a mistura de divindade e humanidade em Cristo. Eu fiquei um tanto surpreso, para dizer o mínimo. Quando pedi uma confirmação, ele disse que era isso realmente o que ele estava buscando.
Muitas pessoas sabem que os números dos versículos na Bíblia foram adicionados em uma data posterior por conveniência. Depois de lembrar a Ali passagens como Filipenses 2.6-7 e o primeiro capítulo de João, eu perguntei a ele porque era necessário encontrar esta verdade tão complexa em um único versículo. Ele ignorou minha pergunta e respondeu alegando vitória que a Bíblia na verdade não diz em um versículo que Jesus é 100 por cento Deus e 100 por cento homem, depois decidiu que iríamos passar para o próximo ponto.
Eu devo admitir que fiquei um pouco perplexo, mas não pronto para admitir minha derrota.
A importância do Contexto
A tática de debate de Ali deve ser chamada de técnica "cortar e incinerar": nunca admitir que usou um argumento fraco e fazer bom uso de sarcasmo para intimidar o oponente. Ele também gosta de declarar vitória no meio de uma troca de idéias e de anunciar que vamos para o próximo assunto. No entanto, antes que eu fosse para a sua próxima pergunta, eu tentei mais uma vez responder à sua questão primeiro. Tudo o que consegui foi que ele me acusasse que eu estava fugindo do seu segundo tema. Ele escreveu,
"Você percebe, Don, o que você fez em seu último e-mail foi evitar completamente este versículo, e aí você foi procurar na Bíblia por outros versículos nos quais você acha que Jesus declarou ser Deus e os passou para nós achando que isso iria de algum modo nos fazer 'esquecer' João 5.30"
O que é que tem João 5.30? Jesus diz "Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma; como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.". Ali afirma que esse versículo mostra que Jesus é inferior e impotente, que Ele na verdade não pode fazer nada. A chave para esta passagem, como sempre, está no contexto. Eu mostrei a Ali que em João 5.19-23, Jesus diz que "o Filho de si mesmo nada pode fazer, senão o que vir o Pai fazer; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente.". Jesus ressuscita os mortos recebeu todo o julgamento e está prestes a receber a mesma honra que ao Pai é dada. Ali replicou, "Grande, é isso que um mensageiro faz, isso não faz dele Deus."
Eu mostrei a ele que um mensageiro comunica algo em nome de outra pessoa. Ele não alega fazer o que a outra pessoa faz. Maomé alegou ser um mensageiro de Alá, não fazer o que Alá faz. Na verdade Jesus não disse que iria mostrar o caminho como um mensageiro faria, mas Ele disse que Ele era o caminho, a verdade e a vida (João 14.6). De fato, o mesmo capítulo diz que os judeus reconheceram que Jesus alegava igualdade com Deus, o Pai e tentaram de todo jeito matá-lo (João 5.18). Ali pode discordar desta alegação, que Jesus é Deus, mas é exatamente este o argumento que está neste capítulo e no resto do livro de João.
Ali tira versículos de seu contexto e recusa-se a lidar com a passagem inteira. Quando recebe evidência do capítulo que contradizem sua visão, ele muda o sentido das palavras e ridiculariza o que acha ser irracional. A seguir veremos a rejeição de Ali à Trindade.
A Trindade
Não é surpreendente que Ali não entenda e nem reconheça a relação Trinitária entre Jesus e o Pai. A Sura 4, versículo 171 no Corão chama as pessoas do livro, cristãos, a não cometer excessos em sua religião. Alega-se ali que Jesus foi somente um mensageiro de Alá e Sua Palavra, a qual foi dada a Maria. Ela literalmente diz aos cristãos para "dizer não à Trindade" pois Alá é único. É possível que Maomé cresse que a Trindade consistia de Jesus, o Pai e Maria. Ele rejeitou Jesus como o Filho de Deus porque ele imaginou Jesus como o fruto de uma união entre Deus o Pai e Maria. Isso seria cometer o pecado máximo aos olhos do Islã, igualar uma coisa física com Deus o Criador (idolatria). Ali escreveu "Dizer que Jesus é Deus ou Filho de Deus é, não somente zombar de natureza divina, mas blasfêmia das mais baixas e um insulto à inteligência dos homens.".
Como resultado, Ali alterna entre negar que a Bíblia ensina que Jesus é Deus e ridicularizar como ilógica a noção de que Jesus possa ser ambos, Deus e homem. Ele recusa-se a reconhecer a noção de Trindade, mesmo quando é a melhor maneira de explicar passagens difíceis. Quando recebem evidências o suficiente de que a Bíblia ensina que Jesus é Deus e homem, reconhecidamente um conceito difícil, mulçumanos rejeitam a Bíblia como tendo sido corrompida. Eles realmente não têm outra alternativa, já que o Corão rejeita especificamente a Trindade. Trata-se literalmente de rejeitar o seu profeta Maomé ou aceitar a validade e a mensagem da Bíblia.
Uma nota paralela a esta discussão é que a posição de Ali é muito similar À crenças de outros grupos religiosos que respeitam Jesus, mas rejeitam o cristianismo. As Testemunhas de Jeová afirmam que a Bíblia foi corrompida depois da passagem dos apóstolos e que eles agora têm a interpretação correta, assim como os Mórmons e os Bahai, um ramo do islamismo. Os Mórmons dizem que seu profeta, Joseph Smith recebeu sua visão de Jesus, encontrada no Livro de Mórmon, do anjo Moroni. Maomé alegou ter recebido o Corão do anjo Gabriel. É óbvio que estas revelações não podem ser todas verdadeiras, já que cada uma delas nos dá um Jesus diferente. Paulo tem algo a dizer sobre estes evangelhos diferentes. Ele escreve à igreja na Galácia:
"Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho, o qual não é outro; senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema." (Gálatas 1.6-8).
Uma Decisão Difícil
Como eu mencionei antes, o resultado do intercâmbio de seis meses não foi nem uma conversão e nem mesmo um final adequado do tipo concordamos-em-discordar. Na verdade, eu encerrei o diálogo depois de perceber que continuar a troca renderia pouco e que o meu tempo poderia ser mais bem gasto em outra coisa. Eu devo acrescentar que esta não foi uma decisão fácil de tomar. Eu imaginei se não tinha desistido fácil demais ou se tinha de algum modo não comunicado adequadamente a esperança que tenho em Cristo.
No entanto, qualquer hesitação ao fim da conversa foi suprimida quando eu recebi uma resposta à minha nota encerrando o debate. Ali me disse que eu não poderia desistir. Que na verdade ele iria anunciar em vários sites que tanto eu quanto Probe Ministries não tínhamos nada a dizer a respeito da confiabilidade da Bíblia se eu não respondesse aos seus desafios. Isto confirmou para mim que Ali estava simplesmente me usando para ganhar acesso a um público maior e conseguir passar sua mensagem. Ele não tinha nenhum interesse em uma discussão de verdade onde idéias são consideradas e existe um mínimo de cortesia.
Eu voltei para as Escrituras para ver como Jesus lidou com pessoas assim e o que Ele ensinou Seus seguidores a fazer quando eles encontrassem ouvidos que não quisessem ouvir. Nos Evangelhos sinóticos, Jesus disse aos seus apóstolos que "E se qualquer lugar não vos receber, nem os homens vos ouvirem, saindo dali, sacudi o pó que estiver debaixo dos vossos pés, em testemunho contra eles." (Marcos 6.11). O sentido é que aqueles que rejeitam o evangelho devem agora responder por si mesmos. Quando o evangelho é ensinado, traz tanto julgamento quanto salvação.
Em Mateus 7.6 Jesus diz aos apóstolos "Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, para não acontecer que as calquem aos pés e, voltando-se, vos despedacem.". Cachorros e porcos não significam qualquer grupo étnico específico. Jesus está ensinando que aqueles que têm tratado o evangelho com escárnio e claramente rejeitaram a salvação que ele oferece e têm se endurecido por sua desobediência, devem ser evitados.
Quando Paulo e Timóteo se opuseram aos judeus, que se tornaram abusivos, o livro de Atos (18.6) lembra "(...) sacudiu ele as vestes e disse-lhes: O vosso sangue seja sobre a vossa cabeça; eu estou limpo, e desde agora vou para os gentios.".
Eu tiro pouco prazer da leitura destas passagens. Eu queria mudar a mente de Ali. Contudo, quando eu disse a ele que eu estava orando por ele, ele replicou "Não pregue para mim, me prove." Dado que ele já tinha ignorado muita evidência, isso me mostrou que seus ouvidos estavam cerrados. No entanto e continuarei a orar para que Deus amoleça o coração de Ali e que um dia ele possa ter ouvidos para ouvir o Evangelho.
©2001 Probe Ministries.
Sobre o Autor
Don Closson recebeu o diploma de bacharel em educação da Southern Illinois University, o mestrado em administração educacional pela Illinois State University, e em Estudos Bíblicos pelo Dallas Theological Seminary. Ele serviu como professor de escola pública e administrador antes de unir-se a Probe Ministries como pesquisador associado no campo da educação. Ele é o editor-geral de Kids, Classrooms, and Contemporary Education. [aCrianças, Salas de Aula e Educação Contemporânea].
O Que é Probe?
Probe Ministries é um ministério sem fins lucrativos cuja missão é auxiliar a igreja na renovação da mente dos crentes com uma cosmovisão cristã e equipar a igreja para levar o mundo a Cristo. Probe cumpre essa missão através de nossas conferências Mind Games para jovens e adultos, do nosso programa de rádio diário de 3 1/2 minutos, e de nosso amplo web site.
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