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13 janeiro 2005

Discernimento Cristão

Por Kerby Anderson, traduzido por Allan Ribeiro

Introdução

Ligue a televisão ou abra um jornal. Você será imediatamente apresentado a uma miríade de problemas éticos. Diariamente somos confrontados com escolhas éticas e de complexidade moral. A sociedade está imersa em assuntos controversos: aborto, eutanásia, clonagem, racismo, abuso de drogas, homossexualismo, jogatina, pornografia e pena capital. A vida pode ter sido mais simples em outros tempos, mas agora, o avanço da tecnologia e o declínio de um consenso ético nos trouxeram a uma sociedade cheia de dilemas morais.

Nunca a sociedade precisou de perspectivas bíblicas mais do que agora para avaliar os temas morais contemporâneos. Ainda assim os cristãos parecem menos equipados para tratar desses assuntos de uma perspectiva bíblica. O Barna Research Group conduziu uma pesquisa nacional com adultos e concluiu que somente quatro por cento tem uma cosmovisão bíblica como base para a sua tomada de decisões. A pesquisa também descobriu que nove por cento dos cristãos nascidos de novo têm tal perspectiva na vida 1.

É importante notar que o que George Barna define como uma cosmovisão cristã seria considerado pela maioria das pessoas como doutrina cristã básica. Isso não inclui nem mesmo aspectos de uma perspectiva bíblica em assuntos políticos e sociais.

De preocupação ainda maior é o fato de que a maioria dos cristãos não baseia suas crenças em um alicerce moral absoluto. A ética bíblica assenta-se na crença de uma verdade absoluta. Ainda assim, as pesquisas mostram que uma minoria de adultos nascidos de novo (quarenta e quatro por cento) e uma proporção ainda menor de adolescentes nascidos de novo (novo por cento) estão certos da existência de verdades morais absolutas 2. Por uma margem de três para um, adultos dizem que a verdade é sempre relativa à pessoa e à sua situação. Esta perspectiva é ainda mais desigual entre adolescentes que predominantemente crêem que a verdade moral depende das circunstâncias 3.

Cientistas sociais e também especialistas em opinião têm alertado que a sociedade americana está se tornando cada vez mais dominada pela anarquia moral. Escrevendo no início dos anos 90, James Patterson e Peter Kim disseram em The Day America Told the Truth [O Dia em Que a América Disse a Verdade], que não havia autoridade moral na América. "Escolhemos que leis de Deus acreditaremos. Não há absolutamente um consenso moral neste país do jeito que havia nos anos 50, quando nossas instituições exigiam mais respeito" 4. Essencialmente vivemos em um mundo de anarquia moral.

Então, como começamos a aplicar a cosmovisão cristã aos complexos temas sociais e políticos de nossos dias? E como evitamos de sermos levados pela última moda ou tendência cultural que sopra com o vento? A seguir, alguns princípios a aplicar e algumas armadilhas perigosas a evitar.

Princípios Bíblicos

Um princípio bíblico chave que se aplica à área da bioética é a santidade da vida humana. Versículos como Salmos 139.3-16, mostram que o cuidado e a preocupação de Deus estendem-se ao útero.

Outros versículos como Jeremias 1.5, Juízes 13.7-8, Salmos 51.5 e Êxodo 21.22-25 dão uma perspectiva e estrutura a este princípio. Estes princípios podem ser aplicados a assuntos que variem do aborto às pesquisas com células-tronco e ao infanticídio.

Um princípio bíblico relacionado envolve a igualdade dos seres humanos. A Bíblia ensina que Deus fez "de um sangue todas as nações de homens" (Atos 17.26). A Bíblia também ensina que é errado para um cristão ter sentimentos de superioridade (Filipenses 2). Os crentes são exortados a não fazer distinção de classes entre varias pessoas (Tiago 2). Paulo prega a igualdade espiritual de todas as pessoas em Cristo (Gálatas 3.28; Colossenses 3.11). Estes princípios aplicam-se a relações raciais e à nossa visão de governo.

Um terceiro princípio é uma perspectiva cristã sobre o casamento. O casamento é plano de Deus e provê associação íntima por toda a vida (Gênesis 2.18). O casamento provê um contexto para a procriação e criação dos filhos (Efésios 6.1-2). E finalmente, o casamento provê uma vazão pura para o desejo sexual (1 Coríntios 7.2). Estes princípios podem ser aplicados a assuntos tão diversos quanto a reprodução artificial (o que geralmente envolve uma terceira parte na gravidez) e a coabitação (viver juntos).

Outro princípio bíblico envolve a ética sexual. A Bíblia ensina que o sexo deve estar dentro dos limites do casamento, quando um homem e uma mulher tornam-se uma carne (Efésios 5.31). Paulo ensina que devemos "evitar a imoralidade sexual" e aprender a controlar o nosso próprio corpo de uma maneira que seja "em santidade e honra" (1 Tessalonicense 4.3-5). Estes princípios aplicam-se a assuntos como sexo antes do casamento, adultério e homossexualidade.

Um último princípio governa a nossa obediência à autoridade civil. Todo governo é determinado por Deus (Romanos 13.1-7). Devemos prestar serviço e obediência ao governo (Mateus 22.21) e nos submetermos à autoridade civil (1 Pedro 2.13-17). Mesmo que devamos obedecer ao governo, há certas ocasiões em que devemos ser forçados a obedecer a Deus ao invés de aos homens (Atos 5.29). Estes princípios devem ser aplicados a assuntos como a guerra, desobediência civil e governo.

Discernimento Bíblico

Então como sabemos o que é verdadeiro ou falso? Este é um problema difícil em um mundo imerso em informação. Isso ressalta a necessidade dos cristãos de desenvolver discernimento. Este é um mundo que aparece muito frequentemente na Bíblia (1 Samuel 25.32-33; 1 Reis 3.10-11; 4.29; Salmos 119.66; Provérbios 2.3; Daniel 2.14; Filipenses 1.9 [NASB – New American Standard Bible]). E com tantos fatos, declarações e opiniões sendo discutidas, todos precisamos ser capazes de separar o que é verdadeiro e o que é falso.

Colossenses 2.8 diz, "Tendo cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo;". Precisamos desenvolver o discernimento para que não sejamos capturados por falsas idéias. Aqui vão algumas coisas que devemos vigiar.

1. Ambigüidade – o uso de termos vagos. Alguém pode começar pelo uso de um vocabulário que achamos que entendemos e então dar uma guinada e apresentar um novo sentido. A maioria de nós está consciente do fato de que as seitas religiosas são frequentemente culpadas disso. Um membro de uma seita pode dizer que crê na salvação pela graça. Mas o que ele realmente quer dizer é que você tem que se juntar à sua seita e trabalhar para ganhar a sua salvação. Faça as pessoas definirem os termos vagos que elas usam.

Esta tática é usada com freqüência na bioética. Defensores das pesquisas com células-tronco geralmente não reconhecerão a diferença entre células-tronco de adultos e células-tronco embrionárias. Aqueles que tentam legalizar a clonagem irão ser referir a isso como "uma transferência nuclear de células somáticas". A não ser que você tenha uma formação científica, você não saberá que isto é essencialmente a mesma coisa [que clonagem].

2. Empilhar Cartas – O uso seletivo de evidência. Não pule no primeiro barco e na primeira onda intelectual sem checar as evidências [primeiro]. Muitos defensores [de uma causa] são culpados de listar todos os pontos a seu favor enquanto ignoram os pontos seriíssimos contra eles.

Os principais livros-texto de biologia usados no ensino médio e superior nunca dão aos estudantes evidências contra a evolução. Jonathan Wells, em seu livro, Icons of Evolution [Ícones da Evolução], mostra que os exemplos que são usados na maioria dos livros escolares estão ou errados ou levam ao engano 5. Alguns dos exemplos são fraudes notórias (como [os desenhos de] embriões de Haeckel) e continuam a aparecer em livros escolares décadas após terem sido desmascarados como fraudulentos.

Outro exemplo seria o do medo do "bug do milênio". Qualquer um que esteve preocupado com a catástrofe potencial em 2000 só precisa ler qualquer um dos jornais técnicos da área de computação dos anos 90 para perceber que nenhum especialista em computadores previa o que os espalha-medo do bug do milênio estavam prevendo à época.

3. Apelo à Autoridade – confiar na autoridade rejeitando a lógica e as evidências. Só porque um especialista disse, isso não significa que seja necessariamente verdade. Vivemos em uma cultura que idolatra especialistas, mas nem todo especialista está certo. A lei de Hiram diz: "Se você consultar um número suficiente de especialistas, pode confirmar qualquer opinião".

Aqueles que argumentam que o aquecimento global é causado pela atividade humana geralmente dizem que "o debate na comunidade científica está encerrado". Mas uma busca na internet por críticas às teorias por trás do aquecimento global irá mostrar que existem muitos cientistas com credenciais em climatologia ou meteorologia que questionam a teoria. Não é correto dizer que o debate terminou quando o debate ainda parece estar acontecendo.

4. Ad Hominem – do latim "contra o homem". Pessoas usando a tática de atacar a pessoa ao invés de lidar com a validade dos seus argumentos. Geralmente o barulho de um argumento é inversamente proporcional à quantidade de retórica ad hominem. Se há evidências para o posicionamento, os defensores geralmente argumentam sobre os méritos da questão. Quando a evidência é escassa, eles atacam os críticos.

Cristãos que querem que bibliotecas públicas impeçam menores de ter acesso à pornografia são acusados de ser censuradores. Cidadãos que querem definir o casamento como sendo entre um homem uma mulher, são chamados de intolerantes. Cientistas que criticam a evolução estão sujeitados a ataques devastadores ao seu caráter e credenciais científicas. Cientistas que questionam o aquecimento global são comparados àqueles que negam o holocausto.

5. Argumento Homem de Palha – fazer os argumentos dos seus oponentes parecerem tão ridículos que fica fácil atacá-los e derrubá-los. Comentadores liberais dizem que os cristãos evangélicos querem implementar uma teocracia na América. Isso não é verdade. Mas a hipérbole trabalha para marginalizar os ativistas cristãos que crêem ter uma responsabilidade em falar sobre temas sociais e políticos dentro da sociedade.

Aqueles que se levantam pelos princípios morais na área da bioética, geralmente vêem essa tática usada contra eles. Eles ouvem dos defensores do suicídio assistido por médicos que os partidários pró-vida não se importam com o sofrimento dos doentes terminais. Os que defendem as pesquisas com células-tronco embrionárias usam a mesma acusação ao dizer que as pessoas pró-vida não se importam com o fato de que essas novas tecnologias médicas poderiam aliviar o sofrimento de muitos com doenças intratáveis. Nada poderia estar mais distante da realidade.

6. Evasão – Evitar o tema mudando o assunto. Políticos fazem isso em entrevistas ao não responder as perguntas feitas pelos repórteres, mas, ao invés disso, responderem a uma pergunta que eles queriam que alguém tivesse feito. Professores fazem isso algumas vezes quando um aluno aponta uma inconsistência ou uma falha lógica.

Pergunte a um defensor do aborto se o feto é humano e você irá provavelmente ver esta tática em ação. Ele, ou ela, pode começar falando sobre o direito que a mulher tem de escolher ou sobre o direito que a mulher tem de controlar o seu próprio corpo. Talvez você ouça um discurso sobre a necessidade de tolerar pontos de vista diferentes em uma sociedade pluralista. Mas você provavelmente não terá uma resposta direta a uma questão importante.

7. Arenque Vermelho – Sair pela tangente (da prática de tirar cães de caça da trilha com o cheiro de peixe defumado). Defensores de pesquisas com células-tronco embrionárias raramente falam sobre a moralidade de destruir embriões humanos. Ao invés disso, saem pela tangente e falam sobre as várias doenças que poderiam ser tratadas e as milhares de pessoas que poderiam ser ajudadas com as pesquisas.

Fique alerta quando alguém em um debate mudar o [foco do] assunto. Eles podem querer discutir os seus pontos em um terreno mais familiar, ou eles podem saber que não poderão vencer, com os argumentos que dispõem, o tema relevante discutido.

Concluindo, nós discutimos alguns dos princípios bíblicos chave que devemos aplicar às nossas considerações e debates sobre temas sociais e políticos. Falamos sobre a santidade da vida humana e a igualdade dos seres humanos. Discutimos uma perspectiva bíblica sobre governos e autoridade civil.

Também passamos algum tempo falando sobre a importância de desenvolvermos o discernimento bíblico e demos uma olhada em várias das falácias lógicas que são frequentemente usadas ao se argumentar contra uma perspectiva cristã em muitos dos temas sociais e políticos de nossos dias.

Todos os dias, parece, somos confrontados com escolhas éticas e de complexidade moral. Como cristãos, é importante considerar estes princípios bíblicos e aplicá-los consistentemente a esses assuntos. Também é importante que desenvolvamos discernimento e aprendamos a reconhecer estas táticas. Somos chamados a desenvolver discernimento quando destruímos falsos argumentos levantados contra o conhecimento de Deus. Ao fazermos isso, aprenderemos a levar todo pensamento cativo em obediência a Cristo (2 Coríntios 10.4-5).

Notas

1. "A Biblical Worldview Has a Radical Effect on a Person's Life," [Uma Cosmovisão Bíblica tem um Efeito Radical Sobre a Vida de uma Pessoa] The Barna Update (Ventura, CA), 1 de Dez. de 2003.
2. "The Year's Most Intriguing Findings, From Barna Research Studies," [As Descobertas Mais Intrigantes do Mundo, dos Estudos de Barna Pesquisas] The Barna Update (Ventura, CA), 12 de Dez. de 2000.
3. "Americans Are Most Likely to Base Truth on Feelings," [Americanos Tendem a Basear a Verdade em Sentimentos] The Barna Update (Ventura, CA), 12 de Fev. de 2002.
4. James Patterson e Peter Kim, The Day America Told the Truth [O Dia e que a América Disse a Verdade](New York: Prentice Hall Press, 1991).
5. Jonathan Wells, Icons of Evolution: Science or Myth? [Ícones da Evolução: Ciência ou Mito?] (Washington: Regnery Publishing, 2000).

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Sobre o Autor

Kerby Anderson é diretor nacional de Probe Ministries International. Ele recebeu sua graduação (Bacharel em Ciências) na Oregon State University, mestrado em ciências pela Yale University, e em teologia pela Georgetown University. Ele é o autor de vários livros, incluindo Genetic Engineering [Engenharia Genética], Origin Science [Ciência da Origem], Living Ethically in the 90s [Vivendo Eticamente nos Anos 90], e Signs of Warning, Signs of Hope, Moral Dilemmas [Sinais de Alerta, Sinais de Esperança, Dilemas Morais], e Christian Ethics in Plain Language [Ética Cristã em Linguagem Direta]. Ele também serviu como editor geral da Kregel Publications nos livros Marriage, Family and Sexuality [Casamento, Família e Sexualidade] e Technology, Spirituality, & Social Trends [Tecnologia, Espiritualidade e Tendências Sociais]. Ele é um colunista nacional, cujos editoriais tem sido publiados no Dallas Morning News, no Miami Herald, no San Jose Mercury, e no Houston Post. Ele é o anfitrião do programa de rádio "Probe", e frequentemente ajuda como anfitrião em "Point of View" [Ponto de Vista] (USA Radio Network).

O Que é Probe?

Probe Ministries é um ministério sem fins lucrativos, cuja missão é auxiliar a igreja na renovação da mente dos crentes com uma cosmovisão cristã e equipar a igreja para levar o mundo a Cristo. Probe cumpre essa missão através de nossas conferências Mind Games para jovens e adultos, do nosso programa de rádio diário de 3 1/2 minutos, e de nosso amplo web site: www.probe.org.

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