Traduzido pelo pastor James A. Choury
O Cristianismo e a Vida Humana
No seu livro, Os Intelectuais Não Precisam de Deus (e Outros Mitos Modernos), o teólogo Alister McGrath conta sobre seu amigo, colecionador de selos postais. “Meu amigo”, diz McGrath, “é capaz de me dizer tudo o que eu poderia querer saber sobre os selos emitidos nas Ilhas Canárias durante o reinado da rainha Vitória, da Inglaterra. Embora eu não duvide da verdade de tudo que ele me diz, não consigo ver a relevância disso para minha vida pessoal.
Muitas pessoas vêem a fé cristã à mesma luz. Simplesmente não conseguem ver a importância de uma religião de quase 2000 anos e que aparentemente já saiu de moda. Um dos deveres do apologista é mostrar ao mundo que o cristianismo é relevante aos nossos tempos atuais. Podemos memorizar muitos dados sobre a ressurreição de Cristo ou sobre a inspiração da Bíblia. Podemos aprender argumentos lógicos para a existência de Deus e outras doutrinas cristãs. Podemos mostrar que o cristianismo é coerente, conseqüente e completo. Porém tudo isso não adianta se as pessoas só vêem o cristianismo como uma coisa ultrapassada e gasta, sem importância para a vida moderna.
É por isso que alguns pensadores cristãos estão dizendo que antes de convencer ao mundo da verdade do cristianismo, precisamos mostrar que o cristianismo é relevante para a vida moderna. Precisamos mostrar que é benéfico e útil.
Porque precisamos começar em um nível tão fundamental? Primeiro, muitas pessoas já foram convencidas de que a religião nada tem a ver com a vida política, econômica ou social. Segundo, muitos acreditam que só a ciência e a tecnologia são capazes de produzir informações benéficas. Essa fé cega na ciência facilmente conduz a uma crença “naturalista” onde Deus não existe, ou simplesmente não importa.
Mesmo que nossa vida física tenha melhorado graças à ciência e à tecnologia, nossa cultura aparentemente continua com grandes problemas nas áreas moral e da vida
Além de poder responder logicamente às perguntas sobre os fatos da ressurreição e da existência de Deus, precisamos mostrar que o cristianismo tem soluções para as perguntas mais profundas e pessoais da vida humana. Fazendo isso ganharemos a atenção de parte dos não-convertidos que nunca teríamos ganho só ficando sempre falando de dados isolados e remotos (para eles) relacionados com religião e história.
Neste artigo apresentarei os problemas da 1) significância, 2) moralidade e 3) esperança e farei um contraste entre o que oferecem o cristianismo e o naturalismo a respeito de cada assunto.
A Questão da Significância
Muitas pessoas talvez nem pensem no significado da vida humana. Porém, todos perguntamos: “Qual o sentido de fazer ou não fazer tal coisa, qual o significado?” Pessoas analíticas levam o assunto além disso, perguntando: “Minha vida toda tem algum sentido?” “Realmente importa o que eu faço?” Muitas pessoas diriam que a vida não tem sentido nem importância, mas quase todos nós sentimos que deveria ter. Procuramos dar sentido à nossas vidas por meio de criatividade ou talvez ajudando a outros.
A questão da significância envolve outros assuntos. De onde eu venho? Qual o propósito da minha vida? Para onde vai tudo isto? O que deveria eu estar fazendo? A filosofia predominante no ocidente hoje em dia é o naturalismo. Todos tendemos a crer que se um assunto não é “científico” não é certo nem importante. Porém, o método científico só trata de assuntos descritos em termos de quantidade: tamanho, distância, velocidade, peso. A ciência é totalmente incapaz de nós orientar em relação a valores, moral, significância e propósito de vida. Seguindo essa filosofia só chegamos à conclusão de que nós também somos só moléculas, átomos, e energia. Segundo essa postura a única significância que a vida pode ter é a que cada um lhe dá na sua própria mente.
Mas se a cada um compete atribuir um sentido à sua vida, o que seria nosso guia? Qual seria nossa “barra de medir”. O que fazemos quando o que você crê dar sentido a sua vida é ofensivo para mim. O que fazemos quando nossas definições de significância nem satisfazem nossos corações? Muitos acreditam que possuir bens materiais é o objetivo da vida. Após conseguir seu objetivo, descobrem que não estão satisfeitos. Outros procuram o poder só para ficar desenganados com os problemas e o fracasso. A vida sem Deus só pode ter significância transitória e tênue.
O cristianismo oferece uma explicação para todas essas questões. Nossas vidas têm sentido e nossas atividades são importantes porque fazem parte de um plano e propósito eternos criados por Deus. Viemos Dele e, ao final, teremos que prestar contas com Ele.
A Questão da Vida Moral
No seu livro Pode o Homem Viver Sem Deus?, o autor Ravi Zacharias diz o seguinte: “O ateísmo dá ao homem todo motivo para viver sem moral e é totalmente carente de pontos de referência que possam nos ajudar a fazermos escolhas. O ateísta que vive meramente uma vida moral está se comportando melhor do que sua filosofia demanda.” Zacharias não está dizendo que todo ateísta (ou anti-teísta como ele os chama) é imoral. Só está dizendo que o ateísmo não oferece nenhuma norma ou padrão fixo com respeito a moralidade.
A moralidade é uma parte inata do ser humano. Um senso de bem e mal está arraigado firmemente dentro de nossa natureza. Constantemente estamos avaliando ações e acontecimentos e até outras pessoas e a nós mesmos. Chamamos os assuntos de bons ou ruins ou nenhum dos dois. Essas são avaliações morais. Acreditamos que esses assuntos têm alguma importância para a vida em comunidade.
O naturalismo é a filosofia reinante em nossos dias. Muitos dizem crer em Deus, porém na prática obedecem aos ensinamentos do naturalismo. A idéia geral é que não existe uma moral universal e absoluta. Cada um está livre para escolher ou mudar sua vida moral segundo as circunstâncias. A verdade é que o naturalismo não oferece uma ajuda para nós fazermos nem sequer uma escolha individual.
Uma pergunta que poderíamos fazer para o ateísta é: “Como você justifica as suas próprias ações?”. Ele talvez responderia que nem precisa de justificações além de seus desejos e necessidades. Poderíamos também perguntar como ele justifica sua indignação a respeito das ações de outros. Também seria bom perguntar se ele gosta de ter suas objeções levadas em conta pelos outros. Quando esperamos que outros considerem nossas objeções a sério estamos dizendo que existem normas superiores às normas individuais e relativas (a não ser que estejamos dizendo que nós mesmos somos a suprema autoridade em tais assuntos). Porém o que isso significa a respeito de cada um criar sua própria moral? O ateísta está querendo usufruir de dois mundos contrários. Ele quer determinar sua própria moral. Porém, será que está disposto a dar a todos esse mesmo privilégio?
Agora, o ateísta talvez diga (como disse o filósofo humanista Paul Kurtz) que obviamente precisamos ter regras gerais para governar a sociedade. Kurtz diz que a educação, o raciocínio, a ciência e a democracia são suficientes para que o povo decida quais serão as suas normas. Mas entre pessoas inteligentes existem diferentes opiniões. O raciocínio frequentemente conduz a conclusões bem diferentes. Nem sempre o voto majoritário está certo. Os nazistas eram a maioria em sua época e lugar. Não, a educação, o raciocínio, a ciência e a democracia não são suficientes. Precisamos de uma lei superior.
Paul Kurtz, talvez sem saber, supõe que as nossas leis conduzem sempre ao bem. Mas poderíamos perguntar qual seria melhor para o avanço da humanidade: dar para todo mundo a mesma oportunidade ou simplesmente exterminar as pessoas fracas e doentes como faziam os nazistas.
O naturalismo carece de uma lei que aplique-se a toda pessoa em todo tempo e à qual podemos apelar para estabelecer uma ordem moral. Nem oferece uma base firme sobre a qual possamos reclamar quando nos sentimos agredidos. O cristianismo, por outro lado, oferece uma moral transcendente que serve tanto para nos proteger quanto para nos restringir.
Os ateístas costumam mencionar que talvez a moral cristã também careça de poder para conduzir a uma vida reta, visto que os cristãos têm feito coisas injustas e até horríveis durante a história. É certo que alguns cristãos fizeram coisas ruins durante a história. Porém, não há nada dentro do cristianismo que nos manda que as façamos. Ao contrário, essas mesmas coisas são condenadas nos ensinamentos cristãos. O cristão que pratica a maldade o faz desobedecendo à sua própria religião. O ateísta, não obstante, pode justificar qualquer conduta porque o homem mesmo chega a ser o único ponto de referência.
O cristianismo não só oferece um conjunto de regras fixas para vivermos de modo moralmente correto, também dá ao homem o poder para conseguir esta vida. O ateísta está sozinho em sua luta para fazer o bem. O Cristão conta com a força do Espírito Santo para obedecer e vencer.
A Questão da Esperança
Alguém uma vez disse: “Enquanto há vida há esperança”. Por algum motivo parece que a maioria dos homens mantém a esperança apesar das circunstâncias. Temos dentro de nós o desejo de ver o bem triunfar sobre qualquer crise atual ou pelo menos ensejamos vê-lo.
Quando consideramos o papel que a experiência humana tem dentro da apologética, devemos dar atenção ao assunto da esperança porque ela encontra rapidamente um lugar em nosso coração. Poucas pessoas ficam totalmente sem esperança. É muito mais comum ver as pessoas colocarem sua esperança em coisas indignas do que ficar sem esperança alguma. Contudo, a presença de esperança até nas situações mais difíceis é uma coisa que quase todos nós temos visto.
Atualmente, porém, a esperança parece estar em notável ausência apesar dos avanços feitos na tecnologia e na ciência. As pessoas ficam procurando alguma coisa em que depositar sua confiança para o futuro.
Durante séculos o mundo ocidental encontrava sua esperança
Dali várias posturas surgiram. Os humanistas seculares foram otimistas e declararam sua esperança na capacidade do ser humano. Eles continuam com esse otimismo apesar de que hoje em dia o avanço na causa da humanidade faz-se por meio do aborto e do suicídio assistido. Educação, raciocínio, ciência e democracia – os deuses do humanismo – até agora não tem nos dado muita razão para nos mostrarmos entusiasmados.
Outros tornaram-se cínicos. Sem nada em que depositar sua confiança, eles abandonaram qualquer esperança que tivessem. Eles não confiam em nada, nem ninguém. Não acreditam que alguém pode ser virtuoso e simplesmente adotaram uma filosofia do desespero. Outros, mais propensos ao lado filosófico, adotaram o existencialismo ateísta que declara que Deus está morto e, com ele, tudo em que outrora o homem baseava sua esperança.
O que podemos dizer sobre uma esperança de vida após a morte? Quando a velhice chega e o velhinho analisa sua vida, será que todos seus labores, lutas, tristezas e vitórias terão sentido? A única coisa que pode oferece o naturalismo é que talvez nossas vidas foram de ajuda para outros. Porém, o naturalismo nem pode sustentar tal esperança. Um universo impessoal mal pode dar recompensas. Ninguém pode predizer o que a futura geração fará com os nossos esforços. Poderíamos até duvidar do valor de ajudar a outros que, segundo o pensamento naturalista, não passam de partículas de pó cósmico como nós mesmos. O naturalismo pode conduzir tanto a um altruísmo beneficente aos mais fracos quanto à aniquilação deles a ao desenvolvimento de uma super-raça humana.
Tampouco o naturalismo tem qualquer coisa a oferecer além do sepulcro. Não existem recompensas. Cada um vive só o melhor possível (segundo seu próprio critério) e morre. Porém, nós continuamos esperando alguma coisa mais. O Cristianismo afirma que a esperança encontra-se
A Resposta encontra-se
Uma das vantagens de falar em significância, moralidade e esperança quando defendemos a fé cristã é que isso nos conduz diretamente à mensagem do evangelho. Nossa significância está arraigada na existência de um Deus criador que está agindo ativamente em nosso meio. A moral objetiva e duradoura, à qual todos estamos sujeitos, tem sua fonte nos atributos e natureza do próprio Deus. Este Deus criador mandou seu Filho amado para nos dar a esperança, o perdão e uma vida nova.
Antes de proceder, é mister responder a algumas possíveis objeções. A primeira é que apelando à experiência humana quando defendendo a fé, poderíamos parecer estar “vendendo” a fé aos descrentes como se fosse um produto para um consumidor. Outra objeção é que tais assuntos como significância e esperança são subjetivos. Apelando a tais “evidências” poderíamos levar a discussão a áreas não racionais e inválidas.
Podemos evitar esses problemas concentrando-nos nas áreas que são universais. Áreas que tratam de assuntos comuns entre todos os seres humanos por pertencerem à raça humana. O desejo por uma ordem moral é subjetivo e interno e é um desejo sentido por todos. A fé é subjetiva, mas é algo que todos aparentemente precisamos para continuar vivendo. Todo mundo também quer sentir que sua vida é significante.
O Que a Bíblia Diz a Respeito
Lembremos que uma das perguntas incluídas no assunto da significância era: “De onde eu venho?” João 1.1-3, Colossenses 1.16-17 e Hebreus 1.2 ensinam que fomos criados por Deus através de Jesus Cristo. Além disso, sabemos, dos exemplos de Davi e Jeremias, que Deus nos conhece pessoalmente (Salmos 139.13-16 e Jeremias 1.5). Estes versículos mostram que nossa vida tem significância e propósito.
A pergunta se nosso dia-a-dia tem algum sentido é respondida pelo conhecimento de que Deus está cumprindo seus propósitos em nossas vidas (Fl 2.12-13; Rm 8.28 e 11.17; Ef 1.11).
Finalmente, às perguntas sobre propósito e o que devemos estar fazendo, a Bíblia nos diz que temos de obedecer aos mandamentos de Deus (João 14.23,24 e 1 João [o livro inteiro]), e que eu devo participar no trabalho de Deus fazendo as coisas que Ele me tem dado a particular (João 13.12-17; Ef 2.10; 1 Pedro 4.10).
Além disso, os atos nobres dos homens e também as atrocidades de guerra têm sua explicação, por um lado, no fato de que somos criados à semelhança de Deus e, por outro lado, que somos corrompidos pelo pecado. Somos criaturas de Deus e temos uma percepção do bem e do mal. Também na cosmologia cristã encontramos a razão de nossos sentimentos de culpa e nossa necessidade de perdão.
Às vezes esquecemo-nos desses pontos importantes em nosso evangelismo. Um teólogo disse que hoje em dia nós falamos muito em vida nova e pouco na justificação pela fé
Já falei no assunto da esperança. Para os Apóstolos Paulo e Pedro, a esperança se encontra na ressurreição de Jesus Cristo. (Atos 23.6; 24.14-15; 1 Pedro 1.3). Nossa esperança é a vida eterna (Tito 1.2; 3.7), e a ressurreição de Cristo dentre os mortos é evidência concreta de que a promessa de vida eterna é segura. Foi com essa certeza, que têm os cristãos, que Paulo disse que os gentios sem Cristo estão sem esperança e sem Deus no mundo (Ef 2.12).
A esperança que temos não é coisa visível (Rm 8.24-25) senão que ela nos espera lá no céu (Cl 1.5). Porém ela é o motivo de nós termos gozo e alegria atualmente (Rm 12.12). Nossa esperança é fortalecida quando lembramos o que Deus fez no passado e quando perseveramos em Cristo (Rm 15.4). À medida que cresce nossa fé e nós experimentamos o gozo que Jesus nos dá, nossa esperança cresce (Rm 15.13). Em vez de colocar nossa fé em riquezas (1 Tm 6.17), a colocamos no Deus que não pode mentir (Tito 1.2).
Em conclusão, vemos que as perguntas de significância, moral e esperança têm sua resposta
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